Depeche Mode no Pavilhão Atlântico: Uma noite de festa e devoção.
Não passaram mais de três anos desde a visita anterior dos Depeche Mode a Portugal, mas a julgar pelo entusiasmo do público no concerto de ontem, em Lisboa, as saudades da banda britânica já eram muitas. Ao longo de duas horas, o trio britânico regressou a um Pavilhão Atlântico esgotado, mostrou-se em forma e apresentou um conjunto de canções quase irrepreensível. "Tour of the Universe", a digressão na qual se insere o espectáculo que os Depeche Mode apresentaram em Portugalno passado dia 14 de Novembro, promove o novo disco do trio, "Sounds of the Universe". Desse registo o alinhamento só incluiu, no entanto, quatro temas, e todos ficaram a perder na comparação com os de álbuns anteriores, mesmo que "In Chains" seja uma envolvente canção de abertura ou que o single "Wrong" mostre alguma força. Seguidor de um formato best-of, que de resto tem sido habitual na digressão, o concerto não deu por isso muito espaço à espontaneidade ou a grandes momentos de surpresa, o que em nada comprometeu uma actuação capaz de subir de intensidade de canção para canção - até porque o melhor dos Depeche Mode é também muito do melhor do que se fez na pop electrónica.
Comunicação musical Acompanhados por um ecrã gigante (com eficazes jogos de cromatismo e geometria) e por mais dois músicos (um teclista e um baterista), Dave Gahan, Martin Gore e Andrew Fletcher demonstraram, desde os primeiros minutos, uma inquebrável sintonia com o público sem sequer precisarem de falar muito. Alguns breves agradecimentos e a apresentação dos músicos, feita por Gahan, originaram as únicas palavras ouvidas fora das canções, já que a banda pareceu deixar que a música falasse por si. E falou muito bem, sobretudo na segunda metade do concerto, numa estupenda sucessão de grandes canções (onde apenas a recente "Miles Away/The Truth Is" pareceu estar a mais).
Os quinze minutos de Gore:
"Home" terá sido um dos momentos mais determinantes, onde Dave Gahan cedeu o protagonismo vocal a Martin Gore - que cantou um dos melhores temas do excelente "Ultra" (1997) apenas acompanhado pelo piano. Como uma grande canção funciona bem em vários formatos, esta tornou-se arrepiante e desarmante nesta versão minimalista, desprovida da electrónica e orquestrações do original. Gore, visivelmente emocionado e com a voz em óptima forma, revisitou imediatamente antes outro recomendável tema desse disco, o atmosférico "Sister of Night", muito provavelmente o mais inesperado da noite (e que infelizmente, talvez pelo compasso mais lento e por não ter sido single, foi também das escassas ocasiões em que parte do público aproveitou para conversar).
Depois do intimismo, a festa!
Outra canção de "Ultra", "It's No Good", despertou reacções mais efusivas, onde a pose dançante de Gahan foi acompanhada por muitos milhares. Efervescente encontro de ritmos viciantes e efeitos luminosos, tornou o Pavilhão Atlântico numa gigantesca discoteca e gerou um dos muitos momentos em que grande parte do público se manteve de pé. Exemplos de festa como este ou os não menos infecciosos "I Feel You" ou "Personal Jesus" conviveram bem com a introspecção vestida de escarlate de "In Your Room", com o dramatismo púrpura de "One Caress" ou com a vertigem progressiva de "Stripped". Nenhum destes superou, ainda assim, a emoção de "Enjoy the Silence", hino pop com direito a versão alargada e o maior momento de devoção da noite. "Never Let Me Down Again" foi um sucessor à altura, onde os espectadores dançaram de acordo com as indicações de Gahan - ou seja, com os braços no ar, numa epidemia mimética (e benigna) que se manteve até aos aplausos. Se em disco os Depeche Mode já não terão o papel pioneiro de outros tempos, ao vivo continuam a oferecer um espectáculo de inegável profissionalismo, onde um evidente carisma surge aliado a canções intemporais. E enquanto se mantiverem assim, três anos fora de palcos portugueses continuará mesmo a parecer um período de ausência demasiado longo. Aqui fica o video do fabuloso "Enjoy the Silence":
Não passaram mais de três anos desde a visita anterior dos Depeche Mode a Portugal, mas a julgar pelo entusiasmo do público no concerto de ontem, em Lisboa, as saudades da banda britânica já eram muitas. Ao longo de duas horas, o trio britânico regressou a um Pavilhão Atlântico esgotado, mostrou-se em forma e apresentou um conjunto de canções quase irrepreensível. "Tour of the Universe", a digressão na qual se insere o espectáculo que os Depeche Mode apresentaram em Portugalno passado dia 14 de Novembro, promove o novo disco do trio, "Sounds of the Universe". Desse registo o alinhamento só incluiu, no entanto, quatro temas, e todos ficaram a perder na comparação com os de álbuns anteriores, mesmo que "In Chains" seja uma envolvente canção de abertura ou que o single "Wrong" mostre alguma força. Seguidor de um formato best-of, que de resto tem sido habitual na digressão, o concerto não deu por isso muito espaço à espontaneidade ou a grandes momentos de surpresa, o que em nada comprometeu uma actuação capaz de subir de intensidade de canção para canção - até porque o melhor dos Depeche Mode é também muito do melhor do que se fez na pop electrónica.
Comunicação musical Acompanhados por um ecrã gigante (com eficazes jogos de cromatismo e geometria) e por mais dois músicos (um teclista e um baterista), Dave Gahan, Martin Gore e Andrew Fletcher demonstraram, desde os primeiros minutos, uma inquebrável sintonia com o público sem sequer precisarem de falar muito. Alguns breves agradecimentos e a apresentação dos músicos, feita por Gahan, originaram as únicas palavras ouvidas fora das canções, já que a banda pareceu deixar que a música falasse por si. E falou muito bem, sobretudo na segunda metade do concerto, numa estupenda sucessão de grandes canções (onde apenas a recente "Miles Away/The Truth Is" pareceu estar a mais).
Os quinze minutos de Gore:
"Home" terá sido um dos momentos mais determinantes, onde Dave Gahan cedeu o protagonismo vocal a Martin Gore - que cantou um dos melhores temas do excelente "Ultra" (1997) apenas acompanhado pelo piano. Como uma grande canção funciona bem em vários formatos, esta tornou-se arrepiante e desarmante nesta versão minimalista, desprovida da electrónica e orquestrações do original. Gore, visivelmente emocionado e com a voz em óptima forma, revisitou imediatamente antes outro recomendável tema desse disco, o atmosférico "Sister of Night", muito provavelmente o mais inesperado da noite (e que infelizmente, talvez pelo compasso mais lento e por não ter sido single, foi também das escassas ocasiões em que parte do público aproveitou para conversar).
Depois do intimismo, a festa!
Outra canção de "Ultra", "It's No Good", despertou reacções mais efusivas, onde a pose dançante de Gahan foi acompanhada por muitos milhares. Efervescente encontro de ritmos viciantes e efeitos luminosos, tornou o Pavilhão Atlântico numa gigantesca discoteca e gerou um dos muitos momentos em que grande parte do público se manteve de pé. Exemplos de festa como este ou os não menos infecciosos "I Feel You" ou "Personal Jesus" conviveram bem com a introspecção vestida de escarlate de "In Your Room", com o dramatismo púrpura de "One Caress" ou com a vertigem progressiva de "Stripped". Nenhum destes superou, ainda assim, a emoção de "Enjoy the Silence", hino pop com direito a versão alargada e o maior momento de devoção da noite. "Never Let Me Down Again" foi um sucessor à altura, onde os espectadores dançaram de acordo com as indicações de Gahan - ou seja, com os braços no ar, numa epidemia mimética (e benigna) que se manteve até aos aplausos. Se em disco os Depeche Mode já não terão o papel pioneiro de outros tempos, ao vivo continuam a oferecer um espectáculo de inegável profissionalismo, onde um evidente carisma surge aliado a canções intemporais. E enquanto se mantiverem assim, três anos fora de palcos portugueses continuará mesmo a parecer um período de ausência demasiado longo. Aqui fica o video do fabuloso "Enjoy the Silence":
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